quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009


Os Países de língua portuguesa
(Ernani Terra )
Espalhada pelos cinco continentes, a língua portuguesa figura entre as dez mais faladas dos planeta. Estruturada a partir do século XII, desde o século XV ultrapassou as fronteiras da península Ibérica, acompanhando as caravelas lusitanas na aventura das grandes navegações.
O português é a língua oficial de 188 480 000 pessoas (Dados de 1992), assim distribuídas:
República Popular de Angola11 000 000 hab.
República Federativa do Brasil 150 000 000 hab.
República de Cabo Verde 350 000 hab.
República da Guiné-Bissau 1 000 000 hab.
República de Moçambique 15 000 000 hab.
República Portuguesa 11 000 000 hab.
República Democrática de São Tomé e Príncipe 130 000 hab.
(Dados de 1992)

Os sete países que têm o português como língua oficial são chamados de lusófonos. E, apesar da incorporação de vocábulos nativos, de certas particularidades de sintaxe, pronúncia e grafia, a língua portuguesa mantém uma unidade.
O português é também falado em pequenas comunidades, reflexo de povoamentos portugueses datados do século XVI. É o caso de Zanzibar (na Tanzânia, costa oriental da África); Macau (possessão portuguesa encravada na China); Goa, Diu, Damão (na Índia); Málaca (na Malásia); Timor (na Indonésia).

Os vários acordos ortográficos
A unificação dos sistemas ortográficos dos países lusófonos não é tarefa fácil, pois as divergências de pronúncia entre esses países acabam determinando grafias diferentes para as mesmas palavra, tanto que várias tentativas para unificar os sistemas ortográficos desses países fracassaram: ou porque não foram aceitas no Brasil, ou porque encontraram reações por parte dos portugueses.
A primeira tentativa de uniformizar a ortografia da língua portuguesa data de 1911, quando uma comissão de filósofos lusitanos propôs uma reforma ortográfica e o governo português a adotou imediatamente. No Brasil, essa reforma gerou muitas discussões, mas acabou não sendo adotada.

O primeiro acordo ortográfico entre Brasil e Portugal data de 1931 e não resultou na unificação dos sistemas ortográficos. Em 1945 houve, em Lisboa um outro acordo, que também não efetivou a unificação, pois foi adotado apenas em Portugal.
O sistema ortográfico adotado atualmente no Brasil é o aprovado pela Academia Brasileira de Letras, na sessão de 12 de agosto de 1943, e simplificado pela Lei nº. 5.765, de 18 de dezembro de 1971, quando foram abolidos:
O trema nos hiatos átonos;
O acento circunflexo diferencial nas letras e e o da sílaba tônica de certas palavras, usado para distingui-las de seus respectivos pares homógrafos, que têm as letras e e o abertas (com exceção de pôde, que continua com acento por oposição a pode);
O acento circunflexo e o acento grave com que se assinalava a sílaba subtônica das palavras derivadas em que ocorre o sufixo –mente ou sufixos iniciados por z.
Em decorrência disso, palavras como saudade, cautela, saudoso deixaram de receber trema; e palavras como acordo (subst.), almoço (subst.), governo (subst.), cafezinho, sozinha, propriamente, cortesmente também perderam o acento gráfico.
Curioso notar que a simplificação ortográfico de 1971 só foi adotada em Portugal em 1973.
Ocorreram ainda outras tentativas de unificação em 1975 e 1986; porém fracassaram mais uma vez, sobretudo pelas reações de Portugal.
O Novo Acordo Ortográfico
O projeto do Novo Acordo Ortográfico, oficialmente chamado Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, visa mais à padronização do que à simplificação do sistema ortográfico em vigor até 1993. Seu objetivo é padronizar alguns poucos pontos discordantes, como o emprego do hífen, algumas regas de acentuação e a queda de consoantes mudas (o que afeta diretamente a grafia lusitana de algumas palavras, como projecto, facto, objectivo, actual, etc.).
Ora, se as modificações são tão pequenas, por que tantas vozes a favor ou contra o Novo Acordo?
Os que defendem as alterações propostas argumentam que a padronização ortográfica “virá estimular o intercâmbio cultural entre Portugal e Brasil”. Ou seja, a leitura de um livro português ficará mais acessível ao leitor brasileiro e vice-versa.
Os que não vêem maior importância nas alterações propostas argumenta a dificuldade que um brasileiro encontra em ler um livro português (e vice-versa) não está na variação ortográfica ou sintática, e sim na significação das palavras (que configura uma questão semântica e não ortográfica!).
O poeta José Paulo Paes, realçando as diferenças de vocabulário existentes entre o Português do Brasil e o de Portugal, escreveu o seguinte texto:

Positivamente, não há acordo ortográfico que padronize esta questão: o brasileiro veste meias; o lusitano, peúgas!।

LÍNGUA PORTUGUESA- OLAVO BILAC

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura।
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!